quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Os Presentes de JESUS


Nos "Diálogos" o profeta Salomão recebe um estranho presente de Jesus na noite de Natal!

– Ali naquela mesa está sentada a minha mulher, de costas para mim. Sozinha naquela mesa, e foi sentar-se exatamente na cadeira que a coloca de costas para mim. Ora havia naquela mesa quatro cadeiras. É dia de Natal. Não era hoje que Você ia colocá-la bem de frente para mim, não naquela mesa ali, mas nesta nossa única mesa comum, aqui juntos, contando um ao outro as Suas Maravilhas?
– Eh! Você quer tudo de uma vez! Guloso! Não sabe que guloseimas e comida em excesso fazem mal?
– Em excesso? Neste caso há sete ou oito anos que é jejum absoluto!
– A Minha Abundância é assim.
– Abundância? Assim como?
– Abundância. Quer uma esposa vulgar?
– Não! Até falo, vaidoso, que a M. tem classe, porque eu sei escolher.
– Retirando a vaidade, você tem razão: a sua M. tem classe.
– Já sei: porque…
– Porque é Minha!
– Ah, é? E para mim… nada?
– Para você… tudo. Não está vendo que Eu estou criando espaço para Tudo?
– Espaço em mim?
– E nela.
– Que estranha maneira de criar espaço!
– Preferia uma maneira vulgar de criar espaço?
– Ah, não, não! Isso não! Vulgar, não! Não gosto de fazer ou receber a mesma coisa duas vezes.
– Então porque você lê e relê estes escritos?
– Porque não chamou estes escritos pelo nome que lhes deu?
– Porque fomos Nós que lhes demos o nome e queria que fosse você a revelá-lo. Hoje é Natal!
– É um dos Seus Presentes?
– Foi. Desembrulhou-O esta noite e ainda não o viu?
– Não… Já, já tinha visto. Mas não liguei para Ele, foi isso, talvez por serem muitos os Presentes, por estar meio sonolento com a ceia…
– Vá. Olhe então bem para este Meu Presente e mostre-O agora a todos
– “Diálogos do Homem com o seu Deus no Tempo Novo.”
– As pessoas não bateram palmas.
– É mesmo. E foi com toda a certeza por aquilo que eu já Lhe tinha dito: acharam comprido demais.
– E talvez difícil de digerir, não?
– É provável. É presunçoso…
– É?
– Você é presunçoso?
(Jesus sorri, visivelmente feliz por eu ter gostado muito deste presente pelos dois motivos já sugeridos: por causa do Presente e por causa do “Nós”).

– Mostre então os outros presentes.
– Olhe, talvez um deles seja aquele que Você referiu há pouco e que eu ainda nem sequer desembrulhei…
– Qual?
– O do “espaço”. Aquele do “criar espaço”.
– Ah, esse? Para Mim, é dos Meus melhores Presentes. Mas para você… não sei se gosta.
– Nem abri!
– Então porque não abre?
– Sim… vou abrir…
– Vá lá, não seja preguiçoso!
– Está bem… Vamos então abrir… Ahn? Mas… não tem nada dentro!
– Claro que tem! Tem espaço!
– Vazio.
– Que encheu a Noite toda.
– Ah! Então é isso? Aquilo foi um Presente Seu?
– Um dos Meus melhores Presentes.
– Na Sua Opinião!
– No Meu Coração!
– Que belos Presentes! Se eu não estivesse acostumado às Suas gracinhas, aos Seus “suspenses”…
– O que foi que Eu lhe ensinei já sobre os espaços vazios?
– Não me ensinou; fui eu que descobri.
– Está bem. O que você descobriu?
– Que os espaços vazios são imprescindíveis, são condição sine qua non para sentir fome e sede.
– Como? E não seria melhor nunca sentir fome nem sede?
– Nunca ter fome nem sede seria nunca ter prazer!
– Então Eu sou um sádico: tenho prazer em lhes tirar todo o prazer!
– Está me confundindo. Explique melhor.
– Eu disse: “Quem comer deste Pão… nunca mais terá fome; Quem beber deste Vinho… desta Água… nunca mais terá sede”
– Que embaralhação, ahn?
– Não sabe desembaralhar isto?
– Só se for depois da Missa. Hoje não queria chegar tarde.
– Depois da Missa, então. Quando você tiver vontade. Tem toda uma eternidade para desembaralhar estas e todas as outras coisas eternas.
– Ah!



(Diálogos do Homem com seu Deus no Tempo Novo - 25 de Dezembro de 1994)

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